terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Sal da Terra


Esperava um pouco mais desta reportagem… Entrevistar pessoas que ainda só estão na fase dos planos pode ser muito inspirador, mas tem pouco de substancial e de palpável, ficamos sem saber se serão bem sucedidas ou se tudo não passou de sonho e boas intenções.
Um estudante de 23 anos que quer ir viver para o campo e fabricar azeite sob a filosofia “o azeite é o novo vinho”… parece-me floreado demais, será que só descobriu a pólvora agora!?
Um casal de arquitectos que alugou um terreno de 2 hectares por 1500 euros/ano (a terra está barata), pretende fazer uma plantação de ervas aromáticas para fins medicinais e cosméticos, com direito a viajar pela Europa para ver outras experiencias e trazer ideias… ninguém lhes disse que as plantas aromáticas estão a tornar-se um déjà vu e em três tempos o mercado ficará saturado!?
Uma jovem empreendedora que está na fase de plantio de mirtilos,  conta que esperou 8 meses pela aprovação do projecto e 6 pelo financiamento, que desembolsou primeiro antes de receber o fundo do ProDer, que espera obter resultados em 4 anos e 5 para receber retorno… boa ideia, boa iniciativa, mas será que vale a pena pensar em grande, daqui a 5 anos vemos como estará!?
Um homem que herdou as terras dos pais e as preparou para a produção de kiwis é o único na reportagem efectivamente no activo… kiwis foram um achado de ouro neste país e de todos o único exemplo aparentemente próspero.
A reportagem tem como premissa que os jovens, perante um futuro incerto, com um diploma na mão mas sem emprego e que se recusam a emigrar, decidem voltar ao campo e dar nova vida ao interior, acreditando que a saída passa pela agricultura. A prova está nos pedidos de apoio para jovens investidores ter aumentado no último ano, não sei se real necessidade ou só porque está na moda fugir das cidades e voltar ao interior, de qualquer modo questiono-me porque será que se continua a pensar que tudo tem que partir de subsídios... o caminho mais fácil não é o que vai fazer as plantas crescer, espero que tenham consciência que o tempo e a paciência são o maior amigo/inimigo de uma vida no campo!
Para ajudar nas facilidades, a senhora ministra anunciou que vai criar um banco de terras, ou seja, terrenos abandonados vão ser açambarcados pelo estado e vendidos ou "dados" a pessoas que os queiram cultivar. À partida parece uma ideia gira e porreira, mas lá por estarem ao abandono não quer dizer que não tenham dono, toda a gente sabe que mais vale uma terra parada do que trabalhada a dar prejuízo!!! Parece que se está a querer dar uma reviravolta na crise, obrigando as pessoas a trabalhar no velhinho sector há 25 anos atrás chamado de primário e os apelos dos senhores do poder para se voltar ao Portugal Rural são tantos, que até já estamos saudosos do 70x7 e do TV Rural.
Não consigo deixar de achar graça a esta solução para salvar a economia estagnada do país, parece um salto para o futuro com um pé no passado, mas todos os exemplos e esforços são bem vindos e dão-nos ideias. Enquanto por aqui se pensa e estuda opções, outros já estão a investir. O que falta é iniciativa!

Um comentário:

Anônimo disse...

Haja pessimismo!
Esta reportagem não foi sobre os bem sucedidos. Foi sobre a aposta jovem na agricultura que se quer jovem.
Casos bem sucedidos não os há apenas nos kiwis. Há-os em todas as fileiras da agricultura, nomeadamente nas aromáticas, no azeite e nos mirtilos.
Plantar kiwis depois de toda a gente saber que são um "achado de ouro" é como o ovo de Colombo. Mas é preciso apostar e arriscar, senão só se produzia kiwis.
Acho bem que o jovem de 23 anos queira apostar no azeite porque azeite tem escoamento.
Acho bem que a jovem empreendedora aposte nos mirtilos "em grande", pois não ganha quem não aposta e se pensar em pequeno não tem sustento.
Acho bem que o casal de arquitetos aposte nas aromáticas, porque há escoamento.
Todas estas áreas podem ter um futuro próspero, a par dos kiwis, se existir dedicação, força de vontade e sorte.
Há uma forma errada de pensar de muita gente em relação a subsídios.
Se há os que são subsídio dependentes, os actuais e jovens agricultores têm formação adequada e pensam de outra forma.
Sem apoio financeiro inicial e uma vez que os bancos não olham a agricultura como meio de se financiarem e já que os países da UE recebem estes apoios para se tornarem competitivos, qual a razão de não se querer os ditos subsídios?
Como é que existiriam, milhares de empresas agrícolas, que geram milhares de postos de trabalho, que geram exportações e diminuem a necessidade de importações, se não houvessem subsídios?
Como dinheiro gera dinheiro, os subsídios existem para ajudar a gerar mais dinheiro para o país.
A ministra e os precursores do banco de terras (vulgo Engº José Martino), estão no caminho certo.
Quem precisa de terras e não tem a sorte de as herdar, tem de as arrendar a preços justos e não especulativos.
Dentro dos terrenos abandonados, há os que efectivamente já não têm dono porque este morreu e não tem descendentes, há os que têm dono mas que não querem fazer nada neles, ou não podem fazer, ou não conseguem fazer. Haverá um período para reclamação dos terrenos, até porque está a ser feito o cadastro do território nacional e tudo terá de ser classificado como tendo dono ou não.
Portanto, se não há dono, o terreno é de todos os portugueses e pode ser cedido a um português que o trabalhe.
A terra trabalhada não dará prejuízo, pelo contrário. Dará lucro financeiro, social e ambiental. Os projectos são aprovados porque têm rentabilidade e respeitam as normas ambientais.
Ninguém obriga ninguém a trabalhar a terra. Vai para lá quem quer e permanece lá quem tem capacidade.
O velhinho sector primário é o que gera exportação e permite diminuir importação, além de gerar postos de trabalho, diminuir o desemprego, prevenir problemas com incêndios de grandes dimensões em terras não trabalhadas.
O velhinho sector primário tem sido mal visto pelo poder político e até pela população no nosso país. Mas os outros países desenvolvidos fazem uma maior aposta neste sector, o que os permite colocar os seus produtos nos nossos supermercados a preços mais baixos do que os nacionais.
Infelizmente já não há TV Rural, porque isso ajudaria muita gente a ver a agricultura com outros olhos.
Resumindo e concluindo: Boa reportagem, a do "Sal da Terra", feita pela TVI.
Mais reportagens serão sempre bem vindas.
Os meus sinceros parabéns aos actores do panorama agrícola, especialmente aos que estão a arriscar e aos que pensam arriscar, assim como aos que ajudam a arriscar.
Cumprimentos
PM