Saiu a primeira Bolsa de Recrutamento. Do meu grupo só ficaram colocadas 63 pessoas, continuando de fora 1465… e eu sou uma dessas pessoas.
Esta situação nova para mim é encarada com alguma estranheza e incredulidade, pois em 9 anos de serviço nunca testemunhei uma situação tão calamitosa, nem mesmo em 2002, quando terminei o curso e não se auguravam colocações. Nessa altura arranjei um primeiro trabalho como repositor de supermercado e nenhum uso fiz do centro de emprego, fazia horário nocturno quando fui chamado temporariamente para uma escola e conciliei os dois trabalhos durante três meses. Estava no supermercado das 21 à 1 da manhã e depois tinha que estar na escola às 9, com 60km de caminho já feitos. Pouco depois fui requisitado para outra escola, o contrato no supermercado terminou e decidi não renovar, afinal foi para ensinar que tirei um curso.
Nos primeiros anos não ficava colocado no dia 1 de Setembro, mas uma semana ou duas depois lá estava para iniciar o ano lectivo. À medida que o tempo passava, as coisas iam-se compondo e ficar colocado no dia 1 já era indício de que havia um lugar para mim neste sistema.
Há cerca de dois anos uma esperança foi dada aos contratados, a chamada recondução, ou seja a hipótese de permanecer na mesma escola por mais um ano, o que trouxe uma garantia de estabilidade nunca antes sentida. Mas num país onde as leis mudam a cada ano lectivo, os cortes da despesa com a educação e a reorganização curricular, lançaram novamente milhares de professores para o desemprego, tratados como seres desnecessários à sociedade.
E eis-me aqui há 15 dias desempregado… as escolas têm os professores que necessitam e não restam horários decentes, muito menos na minha zona de residência! É estranho estar nesta situação. Nunca estive neste papel antes… o de licenciado desempregado! Sempre ouvi os outros falarem das suas experiências, alguns lamentando-se, outros encarando como uma opção algo vantajosa... estranhamente vantajosa. Pois agora percebo os pós e os contras de receber sem trabalhar.
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