terça-feira, 17 de maio de 2011

Metamorphosis


      Conheci Yolanda Soares em 2007 com o seu álbum Music Box que misturava fado e música clássica. Eu que nunca dei muita importância ao fado fiquei bem impressionado, afinal de contas eu gosto de junções musicais, inspirações em outros estilos e épocas, covers e sons do mundo. Quando se chega ao ponto de achar que está tudo inventado na música, a reinvenção e as remisturas são a solução e penso que esta década será recordada não por algo de novo mas por se ressuscitar e reinventar o passado. Mas Yolanda era muito mais que apenas música portuguesa reinventada, era também imagem, teatralidade, era todo um ambiente estudado ao pormenor, das roupas aos detalhes visuais, num verdadeiro exercício musical e de estilo pouco ou nada visto no nosso país.
Três anos depois ei-la com um novo álbum, previamente anunciado como um registo diferente do anterior, uma surpresa prometida. Uma metamorfose confirmada quando ouvidas algumas faixas que logo fizeram perceber que estava a percepcionar algo muito bom. Yolanda assumia um lado crossover e explorava os seus registos vocais que vão do ligeiro ao lírico, em fusão com influências musicais do canto gregoriano, do pop, rock e sons tridimensionais do electrónico.
      Não tive oportunidade de ir aos concertos nos Coliseus, com algum lamento e revolta, pois aborrece-me que a maior parte dos acontecimentos culturais se centrem na capital. Mas saber que Yolanda ia fazer uma tournée deixou-me esperançoso. Era desta que iria viver uma experiencia musical para os sentidos e Alcobaça era a cidade alvo. Curiosamente na noite anterior a RTP 2 transmitiu os concertos dos Coliseus, o que foi um bom prelúdio.
      O cine teatro era pequeno e não estava cheio. Era o primeiro dos 7 concertos. Talvez as pessoas não conheçam, afinal não é música para as massas, como gosto de dizer, é música para gostos apurados e refinados.
     Quando Yolanda entrou na sala, juro que senti um perfume no ar e a dúvida colocou-se, seria mesmo da sua presença iluminada tal anjo branco de voz cristalina? A verdade é que o doce odor de vez em vez se fazia sentir, embalando as músicas que deram início ao concerto. Do primeiro álbum foram cantados alguns fados conhecidos com novas roupagens que acalmaram os ouvintes, não acusando nada do que se seguiria. Foi então que Yolanda falou para a sala e explicou o sentido do seu espectáculo e da Metamorfose musical que a partir dai iria começar.
      Um instrumental electrónico dançavel invadiu a sala enquanto a artista se retirou para mudar de roupa. A partir daí o novo álbum fez-se ouvir com arranjos adaptados, pois os meios usados neste espectáculo não eram certamente os mesmos dos Coliseus. Entre canções ligeiras e baladas, a cantora exibia os seus dotes vocais, uma voz poderosa e lírica. Ora delicada a acompanhar a guitarra portuguesa, ora em surpreendente conjugação com a guitarra eléctrica, ora clássica ao som do piano, ora disputando volume com a bateria por vezes demasiado potente. Acredito que muitos se sentiram levados para uma ópera rock, um musical da Broadway, um concerto de Nightwish. Mas não, em português isto soava a algo realmente nunca feito por cá.
      A energia de Yolanda era em crescente, libertou-se a cada música, circulando pela sala exteriorizando emoções e nunca esquecendo de comunicar com o público. De destacar a inteligência e a gentileza de convidar um grupo coral de crianças de Alcobaça para cantar consigo um tema. Destaque também para o guarda-roupa, tão bem vestida pelos Storytailers no seu fato de guerreira que se transforma em casta princesa, mas desta vez no sentido inverso.
      Senti falta de um ecran que passasse vídeos e apontamentos audiovisuais, acho que essa componente combina com o estilo de espectáculo e só enriquecia a imagem criada em torno de Yolanda. Já lhe expressei em mensagem de facebook a necessidade de ter um vídeo, à qual me respondeu gentilmente justificando os motivos. Estou certo, caso fosse director artístico ou tivesse os meios o faria com muito agrado.
      O espectáculo termina em apoteose, num verdadeiro hino á versatilidade vocal, á fusão de estilos, á multilingue, á irreverência e á qualidade. E no ar a certeza que Yolanda tem tudo para nos continuar a surpreender.

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