Não preciso reescrever a biografia do costureiro José Carlos, porque está
tudo bem detalhado neste site, o que é inacreditável porque encontrar
informação e base de dados fotográfico sobre moda anterior a 2000 é uma carga de
trabalhos.
Foi no início dos anos 90 que vi pela primeira vez imagens de um desfile
de José Carlos, ainda hoje guardo esses recortes de revista e também devo ter
alguma coisa gravada em VHS. Bom gosto e luxo eram a sua imagem de marca, algo impar
no panorama nacional habituado às tendências mais underground próprias da
década de 90. Outro detalhe curioso foi ter sido o responsável pela descoberta
de Sofia Aparício e do seu lançamento como manequim, que desde cedo se tornou na sua musa
e figura imprescindível em todos os desfiles.
Há muito
que guardo esta produção fotográfica da Sofia Aparício com um fantástico vestido
de José Carlos da coleção de 1992.
Recordo perfeitamente a primeira vez que vi a Sofia Aparício na capa de uma revista, na
altura tinha acabado de vencer o Miss Worderland 90 e do meu ponto de vista representava o protótipo da beleza ideal: cabelo preto, pele branca e olhos claros (neste caso lentes).
Depois de
vencer o Look of the Year 92 a já manequim com uma carreira em ascensão, apareceu na capa da
Nova Gente com a sua primeira grande transformação de visual (provavelmente começou aí o meu fascínio por ruivas), acompanhada
por Ricardo Carriço (o modelo masculino top da altura) e com um styling glamoroso da autoria de José Carlos (seu mentor e o melhor costureiro nacional de sempre).
A
partir daí fiquei atento como um fã e assisti como um culto aos 4 anos de 86-60-86 ondepudemos vê-la em constantes mudanças de imagem. Ainda apresentou o Sexto Sentido, começou a fazer moda pontualmente e enveredou definitivamente por uma carreira de atriz, mas isso já é outro departamente.
86-60-86 são supostamente as medidas ideais de uma modelo, e como tal
serviu de título para o primeiro programa inteiramente sobre moda da televisão
portuguesa. O programa teve início em 1994 e terminou em 1998, coincidiu com o boom das super modelos, o crescente
interesse global pelo mundo da moda e também com
o meu cada vez maior fascínio por esse tema. A apresentação estava a cargo da bela
Sofia Aparício que ao longo desses 4 anos mudou de visual dezenas de vezes,
tornando-se na modelo camaleão de Portugal.
Numa altura que pontualmente se falava de moda na televisão, cuja
informação chegava apenas em revistas da especialidade, o
programa serviu para estarmos ocorrentes do que se passava a nível nacional e
internacional: os desfiles e os criadores do momento, os manequins sensação, os
objetos e as peças tendência, a moda da passarela e a moda de rua, o que estava
in e o que estava out. Foi aqui que fiquei a par da carreira de Galliano, que
me maravilhei com a teatralidade dos seus desfiles, que ansiei por novidades e
que me fascinei por um mundo e um ambiente que afinal não era o meu.
Como
é que é possível já ter escrito sobre os desfiles, os chapéus e os sapatos criados
por John Galliano e ainda não ter falado sobre o génio da moda!? Para mim, não há criador tão espetacular e
perfeccionista como Galliano (infelizmente McQueen já não está entre nós!), sigo-o
desde os anos 90, quando comecei a ganhar gosto pela moda, porque Galliano
trouxe algo de novo às roupas e aos desfiles e isso apaixonou-me. Inventou os
shows teatrais, trouxe de volta as histórias como inspiração para cada
coleção, reinterpretou todos os clássicos e preocupou-se com a perfeição dos
detalhes e dos acabamentos, elevando a roupa ao estatuto de obra de arte.
Como é sabido
a moda e a polémica vivem de mãos dadas, e um mestre instantaneamente consagrado
ícone de moda não podia estar longe dela. O afastamento do costureiro da casa
Dior após acusações de agressão verbal e antissemitismo quando se encontrava a
beber num bar, tomaram uma proporção exagerada, demasiado até, pois ainda estou
para perceber como é que uma pessoa que se inspira em outros povos/culturas e que lida com modelos de todas as étnias
pode ser racista!? Estava embriagado, as imagens comprovam-no, e então, toda
a gente diz disparares quando está bêbado... teve foi a infelicidade de ser figura
pública e ter sido filmado.
De qualquer modo, isto cheirou-me a estratégia para o tirarem de
circulação, já que as excentricidades de Galliano estariam a ser demasiado dispendiosas e pouco comerciais
para a marca, essa é que é essa!!! Pois o primeiro desfile da Casa Dior sem a mão de Galliano em Julho de 2011, gerou muita curiosidade e a imprensa viu e não gostou... é que isto
sem ele não é a mesma coisa!
Boas novas
chegaram hoje... ao que parece Oscar de La Renta convidou-o para trabalhar, porque todos merecem uma segunda oportunidade e polémicas à
parte ele não deixa de ser um Mestre.